Enfim, vai ficar pra depois eu contar um pouco mais sobre o país, pois hoje preciso comentar algo que me deixou comovido/emocionado/surpreso/receoso/orgulhoso/ etc etc etc..
Estava voltando da obra com Saliu, um dos motoristas da embaixada que é muito gente boa e tem sido muito importante pro projeto, quando ao passarmos por uma casa na comunidade, pediram para que parássemos. Logo percebi que uma criança estava passando mal, estava sentada na cadeira quando do nada desmaiou. Então Saliu disse que tratava-se de Paludismo (Malária). Logo me veio a cabeça um vídeo que vi, onde dizia que a maior causa mortis entre menores de 5 anos no país era esta doença. Entrou na van o avô da criança e o que parecia ser o irmão mais velho. Comoção total dos familiares que ficaram, e rumamos a toda velocidade para o hospital.
Era muito comovente o desespero daquele avô, chorando com o neto no colo, desmaiado, as vezes parecendo querer ter uma convulsão... Tentei manter o sangue frio e dizia palavras de coragem pra eles, que tudo daria certo e logo chegaríamos ao Hospital Simão Mendes, próximo ao Hotel que moramos.
Chegamos em uma avenida que estava em obras, e pro nosso azar, passava um carro por vez. Pra piorar tudo, estava havendo alguma espécie de carreata (talvez um casamento), e tinham muitos carros passando do outro lado, de modo a não haver uma brecha pro Saliu poder passar. Desci da van e fiz sinal pra um dos carros do cortejo parar, gritei que estavámos com um menino doente de Paludismo, e eles deixaram nossa van prosseguir. Pulei literalmente na van e logo chegamos ao hospital, onde os deixamos.
Cerca de duas horas de intensa agonia pra mim se passaram até que tive coragem de ligar para aquele senhor buscando notícias. Pra minha felicidade, a criança já estava bem, estava tomando soro e sendo medicada.
Impossível não se emocionar com a alegria dele, me implorando uma maneira de poder agradecer, ao passo que eu dizia que não tinha feito nada, e que amanhã passaria na casa dele, pois eu e mais 5 colegas estávamos a construir uma escola ali mesmo na comunidade. Ele disse que sabia quem eu era, pois várias crianças ali da volta me conheciam (por causa do meu trabalho mais junto a obra, sou um dos que mais tem contato com a comunidade, e modéstia a parte, as crianças me adoram, gratuitamente assim, do jeito que é pra ser).
Bom, este foi um singelo resumo do que aconteceu hoje, mas estou muito certo que não consigo transmitir em palavras a emoção que foi, talvez, ter contribuido para salvar a vida de uma criança. Sei que foi apenas uma das milhares que sofrem disso ano após ano, mas é muito gratificante o sentimento de dever cumprido.
Abraços a todos
Ps. Seguem algumas fotos para rechear um pouco o post
A equipe: Andrea (de verm), Leo, Jaque, Maria fernanda, Eu e Lia |
Guiné-Bissau, pátria adotiva |
Máquinamotor com sua filha |