terça-feira, 28 de junho de 2011

Festa Felupe, Malária e Futebol

Esses dias fomos em um kussundé da etnia Felupe. Muito bonito também, tal qual os anteriores da etnia balanta, com a diferença de que os homens não dançavam, apenas tocavam...
Em um determinado momento, chamaram nossa colega Andréa para dançar junto, a qual representou bem hehe. Bom, as fotos falam por si só...










 



Haviam também várias crianças brincando ali perto, e eu fui jogar bola com elas.


Uma hora, um guineense que olhava o jogo pediu a bola emprestada e fez algumas embaixadinhas, ao fim das quais olhou pra mim como quem diz "e aí?". Percebi que se tratava de um "duelo", então apelei pra um tipo de embaixadinhas que casualmente aprendi olhando um vídeo do R. Gaucho no youtube, o qual tu faz embaixadinhas e passa a perna por cima da bola no ar (levei algum tempo até conseguir fazer bem na infância, e na verdade é um dos únicos truques que sei fazer hehe). Histeria geral dos que estavam olhando, até uqe bateram palmas pra mim e o guineense me cumprimentou hehe... bem legal.

Expliquei que era da terra do Ronaldinho Gaucho, então eles me levaram até o campo que era ali próximo para eu jogar com os adultos, mas não havia muito tempo hehe... Fica pra próxima.



Bom, é com imensa alegria que participo a vocês minha recuperação da Malária/Paludismo. É de fato uma doença devastadora, você sente seu organismo sendo destruído, seu fígado inchado, seu estômago pesado, a cabeça doendo... A minha sorte é que tratei rápido, pois o tipo que eu peguei, P. Falciparum, é o mais perigoso, chamado de Malária Severa ou Malária Maligna... Agora voltando ao Brasil farei uma bateria de exames pra ver se está tudo OK mesmo... Torçam hehe

Na sequência vão fotos do torneio de futebol que a comunidade organizou, o qual eu e o Léo jogamos. O jogo terminou 1 a 1, mas o gol de empate deles foi irregular, o centroavante deles dominou com a mão e o juizão não viu. Mas tudo bem.. Ah, não foi das melhores minha atuação, mas me reservo ao direito de botar a culpa na Malária, já que ainda estava com a doença (sim, sou louco arriscando jogar... mas a saudade de bater uma bola era demais). Mais tarde teve o jogo feminino, que a Jaque jogou, e também terminou 1 a 1. Marmeladaaaaa heheh







quinta-feira, 23 de junho de 2011

No na papia Kriol?

Hoje vou explicar algumas diferenças e semelhanças da língua mais popular da Guiné, o Kriol. Primeiramente, um pouco de história.

O Crioulo Guineense, surgiu como uma mistura de vários dialetos das mais variadas etnias, de modo a dificultar a compreensão dos portugueses. Diz-se uma língua falada, e não escrita, pois há poucos livros escritos em crioulo, e também não é a língua oficial do país, portanto não é ensinada nas escolas.

Outdoor em crioulo
O crioulo guineense não é uma língua difícil de aprender, principalmente para quem fala o português. Há várias semelhanças, e é possível entender mesmo sem qualquer noção de crioulo. Com apenas 4 aulas de crioulo já era possível me comunicar com os guineenses em crioulo.

No português temos Eu, tu, eles, nós, vós, eles. Em crioulo, fica N' (particularidade do crioulo, é difícil pra quem não está acostumado a pronunciar) , bu, i , no , bo, e. Esses são os chamados pronomes "fortes". Algumas vezes é possível usar os "fracos" , Ami, abo, elis. (eu, tu , eles).


Propaganda da Guinetel, rede de telefones, num prédio
Uma das principais semelhanças com o português oral, é a subtração do "R" no final das palavras, e a troca do "E" ni final pelo "I". Uma particularidade da língua é o fato de que há advérbios específicos. Por exemplo, nok é usado após "pretu" para enfatizar que é escuro mesmo. Pra branku se usa fandam. "Burmedjo(vermelho) uak", "quenti uit" e "frio iem" são outros exemplos.

Falando em pretu e branku, há um jogo de frases, que embora pareça, não é nada agressivo, e os guineenses acham muita graça quando respondemos. Eles nos chamam de "Branku n pelelê". Nós temos que responder "Pretu n bau".


É difícil ver qualquer registro em crioulo, pois é uma língua “oral”. Porém , alguns outdoors e cartazes da ONU são em crioulo para atingir melhor o público. Estou levando pro Brasil alguns cartoons em crioulo, um deles que ganhei no curso (já parei de fazer, agora é só a prática, mas já consigo me comunicar bem em crioulo). A maioria dos gibis são educativos, falando de malária, sida ou cólera, problemas graves no país (informalmente 54% da população possui sida, e a malária é a maior causadora de mortes).

Cartaz da ONU em português e crioulo


Algumas frases mais usadas em crioulo:

Kuma ke bu sta? (como que você está?)
Kuma di kurpu (como que o corpo vai?)
Kuma ke bu nosti? (como que está anoitecendo?)
No na bai (nós estamos indo)
Sta dritu (está bem)
Alin'li (aqui estou, no sentido de to de boa)

Pra finalizar o post, aí vai o "Pai nosso em crioulo".

No pape ku sta na seu,
pa bu nomi santifikadu,
pa bu renu bin,
pa bu vontadi fasidu
na tera suma na seu.
Partinu aos no pon di kada dia,
purdanu no pekadus
suma ke no purda kilis ki iaranu,
ka bu disanu kai na tentason
ma libranu di mal. Amen.

Ps. No fim das contas era Malária mesmo o que eu tinha... Já estou melhor, porém fico muito preocupado quando o único hospital da capital de um país, além de não ser público, falta luz 2x só na 1h que fiquei lá... Fazem exame pra Malária (maior causa de morte no país, e mata 1 criança a cada 30s em toda África) que da negativo, quando era o que eu tinha... Quando isso vai mudar? Muito triste a realidade...

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Cerimônia do Régulo

Seria cômico se não fosse trágico, mas a verdade é que a obra ficou cerca de um mês e meio parada devido a um mal entendido. Aqui em Bissau, há uma tradição religiosa muito importante, a qual por falta de experiência não tínhamos realizado.

Há uma espécie de “cacique”, o dono da terra (Régulo é como o chamam). Ele precisa dar a autorização pra qualquer obra que seja feita no terreno dele (no caso o bairro SP). Até grandes empresas guineenses respeitam a tradição, que consiste em fazer “sangrar a terra”.
Compramos um porco e uma galinha (os transportamos na van da embaixada) , vinho, aguardente e arroz e rumamos para a cerimônia.




Eu, frango condenado e prof Humberto
Cerimônia

O porco se soltou logo chegando no canteiro de obras, e a meninada foi atrás, uma festa hehe. Num primeiro momento, após algumas palavras de rancor por ainda não ter sido pago junto pela câmara a indenização (sim, uma semana antes nos reunímos com o ministro da educação para dar fim ao mau entendido)e por ele não gosta do presidente da Associação Amizade, a galinha foi sacrificada. Um detalhe... Se alguma parte da galinha, um órgão que eu não entendi bem qual, não fosse da cor certa, teríamos que fazer de novo...

Após foi a vez do João Vitor (o porco) ir pro beleléu. Então todos presentes tiveram que beber uma cachaça na casca de uma cabaceira (fruta típica da região), não sem antes derrubar um pouquinho na terra... Galinha e porco assados, tá feita a festa.

Agora podemos recomeçar a obra com a bênção do sr Régulo.





 Ps. Precisei tomar soro na veia no hospital Simão Mendes, pois estava com suspeita de Malária. Mas era só o susto, ou melhor, intoxicação alimentar (provavelmente uma cabra que comi num bar). 



Mas não se preocupem, já estou bem melhor.Abraços


Prof Humberto, Régulo e eu

quarta-feira, 15 de junho de 2011

A São Paulo do outro lado do Oceano...

Hoje vou escrever algumas linhas sobre a São Paulo que poucos conhecem. Não é uma cidade de mais de 10 milhões de habitantes e sim um bairro quase rural com cerca de 10 mil moradores...

O bairro São Paulo em Bissau leva esse nome devido a uma missão católica portuguesa que construiu a Escola São Paulo há alguns anos... Está localizado próximo ao aeroporto e a avenida que liga Bissau ao resto do país (Bissau fica num estuário).

Aula na escola São Paulo

É onde está sendo construída a escola em forma de mutirão. Isso significa que grande parte do entorno do canteiro de obras nos conhecem, seja pelo boca a boca, por ver a entrada e saída de "brancos" no local, ou pela pesquisa (espécie de censo) que as meninas fizeram no bairro.




É bem diferente da região central de Bissau por se tratar de um bairro na periferia. Não há mercados, apenas vendinhas e também não há muita opção de lazer. É muito comum ver as pessoas como no interior do Brasil sentadas ao final da tarde proseando um pouco e as crianças brincando.




As pessoas que possuem trabalho (a taxa de desemprego é assustadoramente alta) o fazem fora do bairro, pois não há muitas oportunidades ali. Casas de 2 dormitórios com 20 pessoas habitando são comuns. A renda per capta média diária não ultrapassa 40 centavos de dólar.

Dentro do bairro há várias Associações de moradores, das quais temos mais contato com uma, a Associação Amizade, a qual enviou uma carta a Fundação Gol de Letra e desencadeou todo o processo e possibilitou a minha vinda até aqui junto de outros 5 estagiários.

Há muitas crianças no bairro, como em todo o país. Há também vários porcos, várias cabras e galinhas. Não é raro ver pessoas fabricando blocos de terra compactada de modo a fazer suas casas, outras retirando água do poço. Saneamento básico, água tratada e luz infelizmente ainda não são realidade.

Casa no bairro São Paulo, com blocos e quirintins



Blocos de terra











Lixão










Caminhando pelo bairro, encontra-se muitos carros e toka-tokas abandonados. Há também um lixão onde não é raro vê-lo sendo queimado.
Toka-toka abandonado
 Mas há também um lugar muito bonito, o Pailão sagrado. É uma árvore centenária que acredita-se guardar os espíritos dos antepassados.

Poilão sagrado
A bebida favorita por aqui é o vinho de caju, que é feito com a fruta de mesmo nome, e as garrafas ficam fermentando em cima das árvores mesmo.
A comida raramente varia do pratão de arroz com molho de peixe, servido numa grande panela onde todos comem com colher ou com as mãos. Claro que há várias famílias que cultivam uma horta no seu terreno, ou cabras porcos e galinhas.

Hora do rango!


Cabras













Bom, o resto não tenho como transcrever em linhas. Apenas dados mesmo, pois o carinho que sinto por esse bairro não é possível por palavras.






Feira onde se vendem e trocam alimentos



Poço





segunda-feira, 13 de junho de 2011

Teatro e Música

Olá

Essa semana foi muito legal. Vieram a Bissau três pessoas da Fundação Gol de Letra, um dos parceiros no projeto, para fazer oficinas de teatro e música para 30 pessoas da comunidade São Paulo. Foi um sucesso... No primeiro dia essas 30 pessoas foram capacitadas e tiveram noções das oficinas, e no outro, puderam transmitir isso as crianças lá na comunidade... Emocionante é pouco!





No último dia, "Netos de Bandim" e "Us Fidalgus" se apresentaram para cerca de 300 pessoas da comunidade. Crianças nas árvores, em toda a parte.






E quando eu achei que não aconteceria mais nada, encontrei o menino aquele, que eu e o Saliu levamos ao hospital pois estava com Mal[aria. Muito emocionante, e novamente me emocionei ao ver o menino feliz e brincando. A mãe dele me chamou pra conversar e novamente agradeceu o apoio.

Eu e Brema

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Conhecendo a capital Bissau



Mapa da região central de Bissau


Bissau é a capital da Guiné-Bissau e possui cerca de 390 mil habitantes sendo assim a cidade mais populosa do país. Fica no estuário do rio Geba, e graças a isso possui o maior Porto do país. Por ser a capital do país, é o centro administrativo  e militar. Como o país carece de fábricas, Bissau torna-se o centro econômico de Guiné, pois a maioria dos produtos são importados.

Os principais produtos produzidos em Bissau são Mancara (amendoim), madeira, coco e borracha. Fundada em 1687 pelos portugueses, tornou-se capital em 1942. A maioria dos prédios foram arruinados no golpe de 1998, incluindo o palácio presidencial.

Vista aérea de Bissau

Entre os pontos turísticos se destacam:

Praça Imperial


Praça Imperial
Palácio Presidencial
Palácio antes da guerra
Depois da guerra

Palácio por dentro (detalhe pros morcegos)


Bandim (mercado popular)

Bandim


Catedral


Catedral

Fortaleza D'Amura

Assembléia Nacional


Bissau